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Por Greg Richards

29 Maio, 2021

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Faro: De capital turística a capital da cultura?

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Faro, Capital Europeia da Cultura 2027? Trata-se de um grande desafio para uma pequena cidade, mais conhecida pelo turismo do que pela cultura. E, contudo, como explicamos no nosso recente livro Small Cities with Big Dreams, se as pequenas cidades tiverem sonhos suficientemente ambiciosos, também elas poderão alcançar objetivos importantes e surpreendentes.

É claro que outras cidades de Portugal partilham desta opinião, uma vez que se encontram atualmente dez cidades portuguesas a disputar o título de Capital Europeia da Cultura (CEC) para 2027. Porque é a designação como CEC tão popular? Porque pode ajudar as cidades a realizarem os seus sonhos através de um impulso cultural e criativo, estimulando a economia, aperfeiçoando a imagem que pretendem promover, ou aumentando a sua coesão social. O que distingue Faro enquanto cidade é o seu papel como capital do Algarve, uma das regiões turísticas mais importantes da Europa. O turismo é responsável por 80% da economia de Faro - assim sendo, qual é o espaço que sobra para a cultura?

 

Na verdade, Faro compartilha uma cultura de turismo com grande parte da Europa mediterrânea. Os seus campos, antigamente dedicados a culturas agrícolas, tornaram-se centros de atração para os turistas, dando origem a uma nova indústria muito importante em Portugal. Mas uma visão puramente económica do turismo é muito limitadora. Se encararmos os turistas apenas como uma fonte de rendimento, então o Algarve (e grande parte do sul da Europa) está a apostar numa monocultura extremamente arriscada. A pandemia tem-nos mostrado os perigos do excesso de confiança no turismo em massa, pairando sobre o Mediterrâneo o espetro desolador de um futuro puramente industrial e deserto. Que perspetivas existem para o rejuvenescimento do turismo, ou para o desenvolvimento de novas alternativas mais criativas? Alcançar uma visão cultural do turismo é um bom ponto de partida. Os turistas não são apenas sinónimo de um fluxo monetário: com eles trazem também uma cultura própria, criatividade e novas ideias.

É importante abandonarmos a velha conceção de que devemos perseguir o turismo em massa, em favor de uma procura crescente por conhecimento, de modo a desenvolvermos uma economia criativa. O Algarve sempre foi um ponto de encontro de culturas, um autêntico caldeirão criativo. Não há lugar melhor para visitar e experimentar algo inovador (como as oficinas de culinária, pintura e tecelagem oferecidas pela Loulé Criativo), ou para construir uma vida mais imaginativa, como artistas expatriados ou empreendedores criativos. O encanto natural do Algarve significa que pode ser adicionada massa criativa ao aliciar novos "cidadãos temporários": turistas, estudantes e nómadas digitais. Estes recém-chegados estimulam a inovação e impulsionam a mudança através não só do seu consumo, mas também, e cada vez mais, através do seu papel como produtores culturais e criativos. Uma colaboração de sucesso é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento de massa crítica criativa, como o exemplo das CEC anteriores que foram selecionadas pode atestar.

 

A CEC Luxemburgo 2007 contou com a participação não só da pequena cidade do Luxemburgo, mas também com parceiros em França, na Alemanha e na Bélgica, reunindo uma população total de 11 milhões para encenar um impressionante e variado programa cultural. Em 2017, a cidade cipriota de Pafos, que tem uma população semelhante à de Faro, conseguiu ultrapassar desafios financeiros e organizar um evento CEC de êxito, através da sua colaboração com parceiros regionais. A construção de parcerias permite que as cidades alcancem mais do que os seus recursos permitiriam por si só, desenvolvendo mais-valias de networking. Os próprios turistas podem tornar-se parceiros: a CEC 2019 em Matera, no sul da Itália, concedeu passaportes aos seus turistas, tornando-os "cidadãos temporários" e incentivando-os a participar diretamente na vida criativa da cidade. De resto, Faro já mostrou anteriormente que compreende as bases de uma colaboração criativa: o festival das Açoteias (Rooftops) de 2019 proporcionou aos residentes e visitantes uma nova visão da cidade e gerou uma publicidade considerável. Acima de tudo, a European Rooftop Network que foi fundada no seguimento deste festival colocou Faro no centro de uma rede que inclui cidades muito maiores, como Barcelona e Amesterdão.

 

Faro também já demonstrou o seu potencial criativo na criação de conceitos como o projeto Nova Bauhaus - uma conceptualização inesperada e criativa de um dos efeitos secundários do turismo: a produção de uma nova arquitetura. Este projeto está ligado à iniciativa europeia New European Bauhaus, que combina o património cultural com uma nova forma de pensar sobre o espaço, a arquitetura e a sustentabilidade. Outro exemplo importante da criatividade de Faro é a ligação do conceito de CEC ao planeamento de longo prazo para o Plano Estratégico para a Cultura (PeC) de 2030.

 

Mas o Algarve deve ir mais além, não se devendo limitar a considerar apenas o elemento cultural. Esta região deve ser capaz de aproveitar também a sua herança como o "Cabo Canaveral do século XVII", de modo a promover uma plataforma de lançamento para novas descobertas criativas. O objetivo é abordar a falta de inovação comum à maioria dos destinos turísticos com uma visão do cinturão solar português: um destino desejado não só por quem já se encontra na reforma, mas também por nómadas digitais, empresas de alta tecnologia e outros cidadãos europeus em movimento. O contacto de todas estas pessoas com a cultura local é importante.

 

Um estudo recente da Universidade do Algarve sobre os hábitos gastronómicos dos turistas mostra que estes podem ser incentivados a consumir mais peixe e marisco locais, e a comer alimentos mais saudáveis em geral, na sua procura de autenticidade e novas experiências. Estas descobertas podem gerar formas mais positivas de turismo, especialmente se o sentido de urgência devido à pandemia atual for utilizado de forma criativa. Uma mudança de viagens curtas para estadias mais longas irá proporcionar a qualquer viajante a possibilidade de realmente viver na pele o local que visita. O foco da nossa atenção também deve mudar, dos turistas que apenas consomem cultura para aqueles que a coproduzem, por exemplo: em escolas de culinária, residências artísticas e bootcamps criativos. O principal objetivo deverá ser criar e capitalizar as diversas formas de valor geradas por quem vive e por quem se desloca pelo Algarve.

 

A inovação e a criatividade devem aumentar por causa do turismo, e não apesar deste. Desta forma, Faro poderá ser também uma pequena cidade que transforma os seus grandes sonhos em realidade.

 

Texto apresentado no âmbito da candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027

Greg Richards, professor da Universidade de Breda e da Tilburg School of Social and Behavioral Sciences

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